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O brilho dos teus olhos



O que te faz brilhar os olhos?

Perguntei-o à minha filha, enquanto nos espreguiçávamos ao sol. Éramos habitualmente formiguinhas incansáveis, sempre a preparar os invernos (eu ensinando-lhe o valor da ação, as consequências da preguiça), mas naquele fim de tarde permitimo-nos ser cigarras, ela cantarolando a vida, eu revendo as pautas rabiscadas de inquietações que, mesmo parada, não me deixavam parar.

Conta lá... o que te faz brilhar os olhos?

Insisti. Perguntava-o vezes sem conta às crianças com quem me cruzava nas escolas, às vezes também aos adultos que se haviam esquecido de trazer da infância a capacidade de sonhar. E as respostas variavam. Às vezes falavam-me de um prato saboroso ou de uma vitória num jogo de futebol. Quando cortavam cebolas, respondiam-me os mais engraçados. Ou quando os avós lhes ofereciam aquele presente dos seus sonhos. E havia sempre quem confessasse que os olhos lhes brilhavam quando o pai ou a mãe chegavam de avião, depois de meses a trabalhar fora. Eram os mais emotivos.

Mas nos olhos de muitos outros instalava-se o silêncio. Olhavam-se e reolhavam-se sem saberem ao certo se algum dia lhes havia brilhado os olhos e porquê. Não havia comida que os alegrasse, vitória que os satisfizesse. Um brinquedo era só um brinquedo, e não havia avião algum que lhes trouxesse alguém que gostassem verdadeiramente de reencontrar.

A estes, dedicava especial atenção. E, às vezes, com pozinhos de perlimpimpim, conseguia vislumbrar nos olhos deles o brilho que haviam perdido. Bastando, de vez em quando, um elogio certeiro, uma graça oportuna, uma atenção sincera, desvendando um talento qualquer quando julgavam não ter nenhum, ou injetando coragem para o mostrarem quando o problema era a confiança. Era um brilho fugaz, a precisar ainda de matéria e combustível para ser mais do que um fogo fátuo. Mas, para lhe dar corpo e consistência, existiam e existem os professores, que, para além de tudo aquilo que precisam de ser, são também poderosos instigadores de brilhos. Pergunte-se a um professor o que de melhor guardou, do seu percurso profissional, e não faltarão as vezes em que conseguiram pôr os olhos dos seus alunos a brilhar. Sobretudo os olhos daqueles que haviam perdido o seu brilho. Como a criança a quem cobriram de abraços quando as saudades dos pais embaciavam os seus olhos. Ou da outra com quem celebraram quando ela conseguiu, mais tarde do que todos os colegas, ler sem gaguejar. Ou ainda a outra que passava sempre despercebida nas festas da escola, e que desafiaram a ser protagonista. O brilho do adolescente a quem ofereceram ajuda, quando os colegas o maltrataram. O brilho do jovem que convidaram para almoçar, quando o sabiam perdido e sem apoio. Tantos e tantos brilhos que encheriam frasquinhos em muitas prateleiras da memória... Além as prateleiras dos brilhos das boas surpresas e emoções. Acolá as dos brilhos de reconhecimento e valorização. Mais ao fundo, em destaque, as dos brilhos de apoio incondicional e de salvação. E, no currículo dos professores, estariam não só os anos de serviço, as formações e as escolas por onde tinham passado, mas também os frasquinhos que haviam recolhido. E isso haveria de traduzir-se em bónus profissionais, para além do bónus pessoal que significasse. É que não há brilho nos olhos de nenhum aluno que não signifique também o brilho nos olhos do seu professor...

Como não há brilho nos olhos de um filho que não encha de brilho os olhos dos seus pais, também eles colecionadores de frasquinhos, uma vida inteira.

Conta lá, meu amor... o que te faz brilhar os olhos?

Olhou-me nos meus, bem perto, com a luz do sol a iluminar-lhe o rosto sereno – de uma serenidade que raramente lhe permito, nas minhas pressas e exigências de mãe.

És tu que me fazes brilhar os olhos, mamã...

Olhei-os melhor, intrigada. E, de tão perto que estava, vi-me neles refletida. Era eu quem ali estava, quieta, inquieta, no brilho dos seus olhos. Com todas as minhas falhas e inconstâncias. Mas presente. Suficientemente perto para perceber que tudo o que fazia se podia refletir nela, e que isso era uma tremenda responsabilidade. Mas que, por outro lado, o brilho nos olhos de uma criança pode ser tão simples quanto isto: estarmos inteiros, à sua frente, amando-os com os nossos olhos também brilhantes, na felicidade de os ver também felizes...

Sara Rodi
Escritora
 
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