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As minhas Escolas

Primeiro foram os Maristas. Era uma escola ótima. Praticava a inteligência, a correção, a linha reta e a circunferência. Usava o sorriso e espalhava o prazer de aprender. Era uma escola mesmo, mesmo.

Depois os Franciscanos. Mais que das aulas recordo o jardim com mistérios e um grande lago ao fundo. O que talvez mais recorde é o amigo que por lá conheci e ficou para a vida inteira, o padre Víctor Melícias, patrono de uma Escola que tem o nome dele em Torres Vedras. Vou lá de vez em quando contar histórias e dizer poemas.

A seguir veio o Colégio Militar. A grande escola da minha vida. Dos 10 aos 17 anos. Duro como pedra. Mas foi ali que aprendi duas palavras com que construí a estrutura da minha vida; dignidade e solidariedade, Foi ali que aprendi a dizer a verdade custasse o que custasse. Foi ali que estranhamente comecei a escrever poesia. E comecei a perguntar porque é que aquele Portugal da minha juventude era tão feio, tão triste, tão vergonhosamente miserável?

E outra: a Escola Superior de Belas-Artes onde estudei Arquitectura. Foi uma grande festa ao longo dos anos. No 1º período do 1º ano juntei-me a uns 400 alunos mais velhos para celebrarmos o enterro da escola. Nunca mais nada foi igual. Estávamos em 69. O grande prazer era saber, aprender, sonhar, inventar, cantar e rir.

Depois fui professor de Artes, História de Arte, Geometria Descritiva, Teoria do Design, etc etc, na Secundária de Loures.
Um ano o Conselho Pedagógico votou contra tudo o que nós propúnhamos. E nós continuávamos, pois claro.
Éramos mal vistos. Íamos com os alunos para o teatro, para a ópera, fomos ver o Carlos Paredes, ouvíamos o Tom Waits, estávamos apaixonados pelo Miró e pelo Zeca Afonso.
Um dia pusemos à porta da Escola um cartaz a dizer: "Esta escola é uma máquina de fazer crescer pessoas" Foi no início dos anos 80.

Este ano, esses alunos juntaram-se para homenagear os professores que tinham tido e, com o apoio da Câmara Municipal de Loures criar um projecto novo de ensino baseado naquele que vivemos em conjunto.

Tive sorte porque andei em escolas muito boas. Escolas de fazer sonhar. E de fazer crescer e aprender. Escolas a sério. Muito a sério.

José Fanha

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